quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Globo caiu na real: noveleiro quer mais romance e humor


A insegurança está nas ruas, na porta de casa, nos telejornais, nas manchetes dos sites de notícias, relatada nas redes sociais, no inconsciente coletivo.
O risco de ser vítima da violência é real e democrático, não poupa ninguém: direitista, esquerdista, rico, pobre, jovem, velho…
Talvez esteja aí a explicação mais simplista para a indiferença de boa parte do público de TV aberta com A Regra do Jogo.
A novela apresenta uma dose forte de violência e quase nada de humor. Ao invés de ser um entretenimento com efeito analgésico para a tensão que vivemos no cotidiano, acaba por potencializar a sensação de incômodo.
Acredito que a maioria das pessoas liga a TV no horário nobre em busca de alívio momentâneo para o turbilhão de problemas no trabalho, no trânsito, na família etc.
Um produto de teledramaturgia não tem a obrigação de ser elemento alienador, mas também não deveria provocar mais desconforto do que a realidade já oferece.
A Regra do Jogo tem facção criminosa, assassinatos a sangue frio, personagens com perfil psicótico, gritaria sem fim.
De leve, nem a vinheta de abertura, na qual peças de xadrez guerreiam entre si até a destruição total.
A falta do tal alívio cômico faz a novela ter a mesma audiência baixa da antecessora, Babilônia, igualmente ‘pesada’ no enredo.
No ar há mais de um mês, o folhetim da Globo não chega nem perto do frenesi provocado por Avenida Brasil, trama anterior criada pelo mesmo autor, João Emanuel Carneiro.
Já a novela da Record, Os Dez Mandamentos, de Vivian de Oliveira, tem elementos ficcionais e visuais capazes de recrear o telespectador em busca da fuga da realidade.
Ciente dessa necessidade comportamental do público e determinada a resgatar a audiência de sua principal faixa de teledramaturgia, a Globo mudou a próxima novela das 21h.
A realista Sagrada Família, de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, com foco em política e corrupção, foi substituída por Velho Chico, trama rural com muito romance e ecologia, e pitadas de humor brejeiro.
O novelão ambientado às margens do Rio São Francisco está sendo escrito por Edmara Barbosa e Bruno Barbosa, filha e neto de Benedito Ruy Barbosa. O veterano autor faz a supervisão do texto.
Será mais uma parceria dele com o diretor Luiz Fernando Carvalho. Juntos fizeram dois grandes sucessos: Renascer (1993) e O Rei do Gado (1996), esta recentemente reprisada com êxito no Vale a Pena Ver de Novo.
É de Benedito a produção rural que desestabilizou a Globo em 1990, Pantanal, da extinta TV Manchete. A trama marcou mais de 50 pontos de audiência e chegou a liderar o ranking de Ibope.
Dirigida por Jayme Monjardim, a novela mostrava belas imagens de um Brasil que a maioria dos brasileiros desconhecia: natureza, bichos, costumes e tradições da imensidão pantaneira.
Igualmente regionalista, Velho Chico terá a missão de atrair o público que se cansou das tramas das 21h essencialmente urbanas e coléricas produzidas pela Globo nos últimos anos.
“A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte” — e também um pouco de fantasia para suportar a dureza da vida.

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